PROJETOS DE PESQUISA EM ANDAMENTO
Os projetos de pesquisas dos docentes do PPGAV abrangem a variedade esperada de um Programa de Pós-Graduação, compreendendo temas e abordagens alinhadas à Área de Concentração e às duas Linhas de Pesquisa, todas centradas na compreensão do fenômeno artístico moderno e contemporâneo. Dentre as pesquisas teóricas, são abarcadas áreas como arte e política, história da arte no Brasil, arte e narratividade, artes visuais e outras linguagens, arte e violência, assim como a teoria da arte e estudos interdisciplinares. Na área de poéticas, as pesquisas dos docentes incluem estudos sobre gravura, escultura, artes do vídeo, exposições de arte e curadoria, arte em estados não-ordinários de consciência, estudos da performance e do corpo, processos criativos, humor, antiarte, intervenção urbana e site-specific.
AMABILIS DE JESUS DA SILVA
Figurino-corpo-espaço-prótese: modos de produção no campo expandido das artes
Linha Processos Criativos Contemporâneos
A presente pesquisa busca observar produções que partem das relações entre corpo, roupa/figurino e espaço para entendê-las enquanto um fenômeno próprio dos tempos recentes e que podem ser entendidas em sua autonomia, sobretudo pelos procedimentos e estratégias de criação. Para criar um contorno deste estudo, analisa-se alguns termos e conceitos que vêm sendo utilizados como suporte para estas produções, a exemplo de performatividade, campo expandido e performance, tendo por aporte os escritos e teorias de Rosalind Krauss, John Austin, Judith Butler, Richard Schechner e Jossete Féral. A partir da análise do próprio fenômeno intenta-se ainda levantar algumas hipóteses no que se refere ao fortalecimento de tal demanda, como as relacionadas aos eixos temáticos: estudos queer, discussão de corpos dissidentes, contra o Antropoceno, contra o especismo, entre outros. E as ligadas aos meios de produção e de disseminação. Independente dos resultados da pesquisa há um ponto de interesse desta investigação: a relação entre corpo, roupa/figurino e espaço como prótese, tendo por referência os estudos de Donna Haraway e Paul Preciado.
ARTUR CORREIA DE FREITAS
A condição conceitual: as novas vanguardas e o regime alográfico
Linha Teoria, Crítica e História da Arte
Inserida no cruzamento entre historiografia da arte e filosofia analítica, esta pesquisa pretende testar a hipótese de que a expansão da ideia de “obra de arte”, mobilizada pelo quadro cultural das vanguardas, teria sido motivada, no plano da atividade inventiva, pela generalização da “condição conceitual” das novas vanguardas (anos 1960 e 1970). Por condição conceitual entende-se aqui o processo histórico de introjeção do chamado regime “alográfico” (virtualização) no interior dos dispositivos de produção poética. De acordo com os teóricos Nelson Goodman e Gérard Genette, o regime alográfico é aquele em que um artefato não se define pela sua própria história material de produção e, portanto, não se apresenta como um objeto ou evento único, original e aurático, nem depende do corpo do artista para existir. Uma obra de arte alográfica, nesses termos, implica um artefato de imanência virtual que comporta, ao menos em potência, incontáveis ocorrências ou performações possíveis, tal como um romance, com sua tiragem de livros impressos, uma peça de teatro, com suas montagens, ou uma composição musical, com suas múltiplas possibilidades de interpretação. Diante disso, a questão central será compreender o impacto dessa forma de imanência estética no domínio específico das artes visuais, com destaque para os principais procedimentos de alografização (virtualização) historicamente mobilizados nas vanguardas dos anos 1960 e 1970. Uma vez difundida no contexto das novas vanguardas, a introjeção alográfica operada pela condição conceitual terá efeitos duradouros na produção artística contemporânea, e no que nela se entende por “obra de arte”. Ao longo do desenvolvimento da pesquisa, pretende-se pôr à prova o pressuposto de que a condição conceitual das novas vanguardas se dá por meio de três modos de virtualização, aos quais se nomeará, em caráter provisório, de alografia “projetual”, “declarativa” e “instrucional”.
Financiamento: CNPq – Bolsa de Produtividade em Pesquisa PQ-2. Projeto aprovado na Chamada CNPq n. 04/2021 Bolsa de Produtividade em Pesquisa. Processo: 312500/2021-1
Arte e política no Brasil
Linha Teoria, Crítica e História da Arte
No contexto a que Jacques Rancière nomeia por regime estético, a relação entre arte e política, segundo o autor, é atravessada por três modelos de eficácia da arte, a saber: (1) aquela que mostra os estigmas da dominação, (2) a que põe em ridículo os ícones reinantes e, por fim, (3) a que sai dos lugares que lhe são próprios para transformar-se em prática social. Em linhas gerais, o primeiro modelo de eficácia política da arte coincide com as diversas formas de iconografia política centradas na ideia de engajamento, ou seja, de apelo ao público profano por meio de narrativas acusatórias e/ou heroicizantes. O segundo modelo, por sua vez, consiste na sobrevivência transfigurada da iconoclastia, via de regra temperada pelo encontro da sátira com a raiva civil. Ao passo que o terceiro modelo de eficácia, finalmente, é aquele que diz respeito aos gestos de embate direto, por meio da linguagem, com as convenções simbólicas e éticas difundidas pelas instituições da cultura. Desse modo, partindo da ideia histórico-artística mais ampla de regime estético, este projeto pretende testar, por meio de estudos de casos exemplares, a validade e o alcance da tipologia dos três modelos de eficácia política da arte no contexto da arte moderna e contemporânea no Brasil, com ênfase na produção poética, crítica e institucional realizada do pós-guerra em diante, entre os anos 1950 e 2000, aproximadamente.
BERNADETTE MARIA PANEK
O andar como posicionamento político – livro arte e arte do caminhar
Linha Processos Criativos Contemporâneos
A pesquisa em questão tem o objetivo de trabalhar o caminhar como método estético. Para tanto tem apoio do âmbito teórico e da prática no campo das artes visuais. A partir de uma leitura crítica e de análise comparativa traz a proposta de analisar o caminhar como experiência cultural ao tomar como amparo em primeira instância a publicação de Francesco Careri “Walkscapes – O andar como prática estética”. Seguindo com as leituras de determinadas obras paradigmáticas sobre o tema do caminhar: “A história do caminhar” de Rebecca Solnit; “Caminhar, uma revolução” de Adriano Labbucci; “Caminhar, uma filosofia” de Frederic Gros; “A arte de caminhar – o escritor como caminhante” de Merlin Coverly. A pesquisa apresenta a meta de explorar determinadas obras históricas, no âmbito das artes visuais, que trazem uma conexão direta ou indireta com os conceitos e técnicas da gravura, considerando a ideia de publicações de arte. A referida pesquisa tem a intenção de apresentar uma série de livros de artista. Assim como pretende, nos exercícios práticos, mesclar técnicas da gravura, do desenho e da fotografia, sempre trazendo como ferramenta de trabalho as caminhadas na natureza. Traz como referência inicial a obra dos artistas ingleses Hamish Fulton e Richard Long, assim como as propostas políticas que envolvem a obra “Arte Física – Mutações geográficas: Fronteira vertical (Yaripo), 1969-2015”, do artista brasileiro Cildo Meireles.
CARINA MARIA WEIDLE
O Quanto Custa: moedas, medalhas e cédulas
Linha Processos Criativos Contemporâneos
"O quanto custa: moedas, medalhas e cédulas” propõe o desenvolvimento de obras que exploram as qualidades do baixo e alto relevo, na cerâmica e em diversos materiais moldáveis. Tem como tema medalhas, moedas e cédulas, com interesse na discussão de formas de representações do relevo contemporâneo. Através de uma exposição no Imperial War Museum de Londres, em 1992, tive contato com obras de David Smith realizadas durante a Segunda Guerra Mundial, no período de 1937 a 1940. Não eram trabalhos pelos quais o artista é mais reconhecido. Eram desenhos e relevos intitulados “Medals for Dishonor”. Foi uma exposição bastante extraordinária, pois foi a primeira vez que o conjunto de 17 medalhas foi mostrado depois dos anos 40, e desta vez ainda fora dos Estados Unidos. As obras que ali conheci reverberaram por muitos anos no meu imaginário, e agora neste projeto de pesquisa, procuro trazer à luz algumas questões que o trabalho despertou. A primeira foi a ideia de valor intrínseco a moedas e medalhas. Medalhas são ainda artefatos elogiosos, são honrarias. É neste sentido que o trabalho de David Smith colocou-se para mim: como pode existir medalhas de desonra? Qual a possibilidade de desonra ter valor? E prosseguindo, uma medalha é uma moeda grande; então pode uma medalha ser um grande desvalor? Era evidente a ironia que o trabalho carregava. Um outro aspecto é a portabilidade de moedas e medalhas. Andam de mão em mão, ou habitam os bolsos dos casacos, ou ainda o fundo das bolsas. Sofrem desgastes em seus relevos, que conforme colocarei mais adiante, produziu imagens deformadas dos governantes ali representados. Os relevos de moedas e medalhas também ocupam pouco espaço. A questão da portabilidade de obras tornou-se alvo de interesse para esta pesquisa. Em 2002 na Bienal de São Paulo, a artista Eliane Prolik apresentou um trabalho que de alguma forma questiona as questões espaciais da escultura. Chamava-se “ No mundo não há mais lugar” . Era uma espécie de dispensador de balas, só que as balas eram esculturas feitas a partir do molde de uma boca. Eram doces, azuis, e comestíveis. Eram objetos portáteis, efêmeros e que apelavam não apenas para o aspecto visual, mas também táctil e gustativo, e por isso colaborou como repertório para elaboração deste projeto. É portanto neste contexto, de diálogo entre valor, homenagem, portabilidade e desgaste que esta pesquisa se estabelece.
DEBORAH ALICE BRUEL GEMIN
O sítio específico da crítica institucional na América Latina
Linha Processos Criativos Contemporâneos
A pesquisa propõe elencar e discutir as práticas site-specific e de crítica institucional produzidas a partir dos anos 1970 nos países da América Latina. Partindo de um interesse em deslocar a arte latino-americana para o protagonismo da teoria e história da arte. Nestas disciplinas nos inspiramos, quando não literalmente copiamos os sistemas tradicionais de arte europeu e norte-americano, o que nos coloca numa posição subalterna. Por isso conhecer, analisar e divulgar projetos, práticas e obras de arte que questionem estes sistemas em cada país latino-americano, com suas estruturas simbólicas, pode ampliar a compreensão destes conceitos e problematizar se seu uso vem sendo feito de maneira adequada ou equivocada.
DENISE ADRIANA BANDEIRA
Redes de trocas: sistema, agentes, políticas em arte e aspectos dos usos de diagramas em processos de criaçãoLinha Processos Criativos Contemporâneos
Estudo do sistema de arte, a partir de eventos, constituição de uma investigação sobre o conceito do diagrama e suas possibilidades de aplicação na experiência artística e em dinâmicas institucionais; refletir sobre a formação de redes entre agentes, trocas e políticas no campo da arte (estudos de caso). Nesta segunda etapa, tendo em vista a progressão da pesquisa, pretende-se dar continuidade ao levantamento sobre o conceito do diagrama e sua influência para a experiência dos agentes, no estudo das dinâmicas e conexões. Destaca-se que pesquisadores como Latour (1986, 2001) e Salles (2010, 2012), cada em seus campos investigativos, sobre ciência e arte, avaliam os diferentes usos do diagramas como estratégia de pesquisa. Segundo Salles (2010) muitos dos arquivos contemporâneos de registros do processo de criação ganham complexidade e ultrapassam os modos tradicionais de documentação da gênese artística e, consequentemente, com a desterritorialização do espaço expositivo e curatorial. Além disto, diferentes estudos de caso de acordo com as dinâmicas identificadas poderão contribuir em avaliações sobre o uso do diagrama como esquema de visualização dos processos estéticos-investigativos no campo artístico e, também, em outros processos projetuais tais como em arquitetura. Assim, a continuidade da investigação aposta na abordagem do diagrama como representação de forças e caminho para estudar as infindáveis possibilidades da criação, conhecer as incertezas e a imprecisão, como alternativas para a decisão. Além de possibilitar a observação de dinâmicas institucionais e de tendências na constituição de redes em eventos do sistema da arte. A investigação se desenvolverá primeiramente a partir de estudos bibliográficos e, na sequência, teórico-práticos, com uma seleção de estudos de caso e exploratórios, além de orientações. A proposta acontecerá em continuidade com a investigação realizada no último biênio, com a revisão conceitual, elaboração de conceitos e modos de representação tanto quanto de ação de agentes e, também, para avaliar as dinâmicas institucionais e os modos de constituição de uma ecologia de redes.
FABRÍCIA CABRAL DE LIRA JORDÃO
Arte política, decolonialidade e imaginários capitalistas na América Latina
Linha Processos Criativos Contemporâneos
Desde uma perspectiva marxista e de uma abordagem materialista dialética, se propõe a investigar a conflituosa relação entre arte política e os imaginários revolucionários no contexto de hegemonia da realidade material capitalista. Para tanto, toma-se como hipótese que hoje, nos cenários artísticos da América Latina, a relação arte revolução foi recolocada e atualizada, sobretudo, por produções artísticas alinhadas com as perspectivas decoloniais. Em que pesem a abertura sem precedentes para os discursos, as produções e os imaginários que emergem de segmentos historicamente excluídos, essas produções tem diante de si grandes desafios: afirmar o caráter político do trabalho de arte e produzir uma forma artística contra revolucionária em um circuito regido tanto pela lógica despolitizante do neoliberalismo, quanto pela hegemonia do imaginário revolucionário capitalista e de sua economia das imagens. Diante desse cenário, a pesquisa tem três objetivos centrais. Primeiro: problematizar qual seriam as funções da arte, do trabalho de arte e da imagem artística na era do capitalismo total. Segundo: investigar os limites e potencialidades contra revolucionários de trabalhos de arte comprometidos a perspectiva decolonial. Terceiro: especular se seria possível reimaginar a forma artística como uma realidade material anticapitalista.
FABRICIO VAZ NUNES
O fantástico latino-americano entre as artes visuais e a literatura: estudos de casos
Linha Teoria, Crítica e História da Arte
O projeto “O fantástico latino-americano entre as artes visuais e a literatura: estudos de casos” tem como tema diferentes casos de interação e diálogo entre a produção artística latino-americana no âmbito das artes visuais e no âmbito da literatura no gênero fantástico, com ênfase no recorte cronológico do século XX. Os objetos a serem pesquisados são casos de ilustrações de livros dentro do gênero fantástico realizados por artistas latino-americanos; textos literários escritos por artistas visuais latino-americanos e suas relações com sua produção plástica, assim como textos de crítica de arte de autoria de escritores latino-americanos ligados ao fantástico; e histórias em quadrinhos, com ênfase na produção argentina, dentro do gênero fantástico e fantasista, incluindo ainda, eventualmente, outras produções intermidiáticas dentro do gênero fantástico que manifestem diálogos e relações entre artes visuais e literatura e que se revelem pertinentes para a pesquisa. O aporte teórico central desta pesquisa se dá a partir do conceito de intermidialidade, em especial nas formulações de W. J. T. Mitchell e Irina Rajewski, e das considerações sobre o fantástico na obra de Rosalba Campra, “Territorios de la ficción – el fantástico”, em que o gênero é definido a partir da noção de transgressão de limites entre real e irreal, natural e sobrenatural, entendendo-se que a interação e o diálogo entre artes visuais e literatura também opera com transgressões dos limites entre as diferentes modalidades artísticas.
Financiamento: Fundação Araucária – Programa de Iniciação Científica da UNESPAR
JOSÉ ELIÉZER MIKOSZ
O lugar da sexualidade nas artes visuais da contracultura psicodélica
Linha Processos Criativos Contemporâneos
Este projeto de pesquisa tem como objetivo revisitar alguns acontecimentos da contracultura iniciados por volta de 1964, nomeadamente sobre a arte psicodélica ligada ao erotismo favorecido pela revolução sexual da época. Após o progresso e poder americano do pós-guerra, milhares de jovens rejeitaram o “sonho americano” de seus pais que prospectavam suas vidas dedicadas ao dinheiro e status. Esses jovens de classe média criaram o que ficou conhecido como contracultura que floresceu de vários modos até meados dos anos 1970. A maioria se tornou hippie e buscaram sentido na espiritualidade oriental, vida em comunidade e no amor livre. Outros se tornaram a nova esquerda radical que planejavam derrubar o governo. Ambos acreditavam no iminente surgimento da Nova Era e que seus protestos e forças contra o sistema poderiam levar a Paz e Amor ao triunfo. Nesse período está presente a experimentação mais aberta e defendida do uso de substâncias psicoativas, a busca por expansão da consciência, que é uma das características do movimento psicodélico. É, portanto, a partir desses dois fenômenos, o amor livre e o psicodelismo, que buscaremos exemplos da produção poética do período nas pinturas e desenhos, histórias em quadrinhos, cartazes, até suas repercussões no Brasil da época e na atualidade, como também na poética pessoal do autor deste projeto.
KEILA KERN
Utopias, distopias e projeções nas artes visuais da América Latina
Linha Processos Criativos Contemporâneos
A hipótese desta pesquisa é que a antropologia especulativa tem se aproximado dos temas do campo da Arte e pode fornecer instrumentos teóricos e críticos válidos e importantes demais para serem dispensados pela pesquisa e prática artística. Este trabalho está voltado para a tradução do texto “Reativar a feitiçaria e outras receitas de resistência – pensando com Isabelle Stengers” do antropólogo e professor Renato Sztutman como forma de aproximação com os conceitos de “cosmopolítica”, “pensamento ameríndio”, “animismo” e “sobrenatureza”. O projeto tem como objetivo examinar o conceito/proposta de “cosmopolítica”, tal como formulado por Isabelle Stengers e desenvolvido por Bruno Latour, reconhecendo nesta proposta uma nova perspectiva, crítica e de aproximação, entre conhecimentos científicos e conhecimentos não-científicos (como tem sido categorizados o pensamento em arte). Uma vez cercada a formulação deste conceito/proposta o foco de investigação desta pesquisa residirá nos impasses contemporâneos em torno desta dualidade, fundada pela distinção modernista entre Natureza e Sociedade, na produção artística latino-americana.
MILENA COSTA DE SOUZA
Onde estão as curadoras e curadories?
Linha Teoria, Crítica e História da Arte
O projeto "Onde estão as curadoras e curadories?” tem como objetivo mapear mulheres, pessoas trans, não-binárias e agêneras que atuam na curadoria das artes visuais na cidade de Curitiba. Pretende-se compreender as redes de atuação curatorial, conhecer agentes e trajetórias, bem como contribuir para a construção da história cultural da cidade. O recorte aqui proposto é uma estratégia epistemológica para visibilizar a atuação de sujeites que são frequentemente excluídes das grandes narrativas ou são visibilizades apenas a partir de um processo de toquenização. Assim, este projeto está calcado naquilo que Maura Reilly chama de “essencialismo estratégico" (2019). Em dossiê recente organizado por Simioni e Trizoli intitulado “A crítica de arte feita por mulheres e seus desdobramentos institucionais” (2024) percebemos o uso do conceito de "figura híbrida" para se referir a atuação profissional do “crítico-artista-curador-galerista”, que trabalha em diversas frentes para garantir sua manutenção econômica, em um sistema instável e precário, questão refletida também por Medina ao pensar as práticas curatoriais desde o Sul (2021). O projeto compreende as seguintes etapas: entender como a curadoria manifesta-se e quais as definições possíveis para esta atividade; identificar as instituições culturais da cidade e centros de pesquisa que podem contribuir com as fontes do mapeamento; elaborar questionário a ser enviado para as direções de museus locais, gestores de espaços expositivos e artistas; consultar catálogos e documentos, e elaborar perfis de curadoras/ies.
MILIANDRE GARCIA DE SOUZA
Do Teatro Experimental do Negro (TEN) às artes visuais: trajetória intelectual e artística de Abdias Nascimento (anos 1940 a 1980)
Linha Teoria, Crítica e História da Arte
Embora Abdias Nascimento tivesse iniciado nas artes visuais no Rio de Janeiro, em 1968, também participado da organização do concurso Cristo de Cor pelo TEN, em 1955, organizado um curso de arte negra no auditório do Museu Nacional de Belas-Artes e idealizado o projeto de criação do Museu de Arte Negra no Rio de Janeiro, em 1968 (Nascimento, 1978, p, 47), pode-se afirmar que foi no exílio que seu trabalho pictórico se desenvolveu amplamente ganhando maior visibilidade. Essa transição das artes de espetáculo para as artes visuais evidencia, ao nosso ver, dois caminhos no pensamento e nas artes de Abdias Nascimento que já vinham se delineando no Brasil antes do exílio, mas que ganhou notoriedade no exterior. O primeiro aspecto refere-se à transformação da sua perspectiva de expansão da agenda do movimento negro, não mais limitada à dimensão nacional que atravessava tanto movimentos de esquerda quanto de direita no Brasil do século XX. A partir da experiência do exílio, o nacionalismo concentrado na unidade política de cada país, independentemente da apreensão pelos grupos locais, acabava por restringir o horizonte dos negros em diáspora. Como alternativa às perspectivas antes restritas aos contextos nacionais, Abdias Nascimento aderiu aos ideais supranacionais do panafricanismo. O segundo diz respeito à necessidade de comunicação com o público mais amplo, que permitisse ultrapassar, até mesmo romper as barreiras da língua. O predomínio desta que além de limitar a difusão da agenda de unificação do movimento negro panafricanista, não atribuía o devido valor à comunicação não-verbal, característica da cultura africana desde os tempos mais remotos, porém resíduo contemporâneo do colonialismo que se impôs historicamente como superior a outras manifestações culturais (Quijano, 1998). A retomada dessas questões na esfera política e sua constituição como objeto de pesquisa acadêmica, desde que se tome o cuidado de não transformar o negro e os problemas que lhe afligem em mero “material etnográfico” (Abdias, 1978, p. 41), constituem hoje em importante iniciativa contra o desconhecimento interessado, quando não o silenciamento arbitrário em torno das lutas negras e do pensamento afrodescendente no âmbito do Sul Global, em diferentes contextos históricos, que sustentam e estruturam os mecanismos de reprodução do colonialismo para além da Modernidade. No campo das artes visuais trata-se, segundo Renata Felinto, de um movimento revisionista a partir de ações que incorporam novas escritas e leituras historiográficas no campo da História da Arte e descolamento da perspectiva teórica-metodológica que desde Giorgio Vasari (1551) concentra-se na vida dos “grandes artistas” e na descrição da sua formação técnica (2022, p. 123).
PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA REIS
Narrativas da arte no Brasil: outras histórias
Linha Teoria, Crítica e História da Arte
O presente projeto de pesquisa propõe uma investigação sobre a historiografia da arte contemporânea no Brasil. Através de publicações de história da arte no país desde finais dos anos 1960, críticas de arte, curadorias de exposições, relatos, entrevistas e documentações diversas, serão realizadas reflexões sobre modos de construção das narrativas da história da arte. E, a partir de estudos iniciais, serão analisados modelos historiográficos, seus recortes, classificações, posicionamentos críticos e suas escolhas. Pretende-se desta forma uma discussão ampla sobre a construção das narrativas da arte no Brasil, hegemônicas ou não, através do entendimento de olhares específicos, quais sejam, posicionamentos críticos estabelecidos pelos estudos de gênero, na multiplicidade de narrativas estabelecidas pela diversidade cultural-geográfica do país, nas ações de uma arte ativista e no resgate da memória de proposições individuais ou coletivas que efetivaram-se fora de instituições artísticas ou que tiveram um caráter efêmero. E por fim, através de uma crítica histórica e cultural, propõe-se a construção de histórias plurais da arte brasileira, uma revisão do apagamento de determinadas proposições artísticas e o diálogo sempre aberto com outros campos artísticos e culturais.
RAFAEL TASSI
Memória e testemunho: mediações críticas, estratégias artísticas e deslocamentos na perspectiva arte e trauma
Linha Teoria, Crítica e História da Arte
O projeto de pesquisa pretende desdobrar e alargar o projeto de pesquisa anterior do pesquisador (Dever de Memória, Dilemas Representacionais: Limites entre Arte, Exposição e Testemunho), incialmente ideado como projeto de pós-doutorado (iniciado em 2017, concluído em 2018) e que teve seu término coincidindo com o início do novo ciclo avaliativo da Capes (quadriênio 2021-2024). O projeto de pesquisa atual, a ser desenvolvido majoritariamente no novo quadriênio, almeja seguir produzindo interfaces com o estudo das formas visuais e audiovisuais (entre outras, iconografia, material audiovisual, contextos fílmico-imagísticos, fotografias, etc.) relacionadas ao tema arte-violência desde diversas fontes expositivas (arte abjeta; instalações; cinematografias; material fotográfico; etc.). Interessa, mais uma vez, o levantamento e a análise de corpus cinematográficos e obras específicas das artes contemporâneas que promovam, em seu centro articulador (o eixo memória e testemunho), a noção de arte e trauma. O novo projeto de pesquisa pretende avaliar estratégias artísticas e escolhas fenomenológicas dentro desse horizonte, adotando novas composições teórica-analíticas, em associação com perspectivas anteriores, para estruturar os estudos das fontes documentais e deontologia artística: estética da longa duração; usos criativos do arquivo; ‘realismo traumático’; políticas de memória em filmes com ‘tempos longos’; memória e transmissibilidade artística; etc.
RENATO TORRES
Paisagens verticais: processo de produção em gravura
Linha Processos Criativos Contemporâneos
A presente pesquisa tem por objetivo refletir sobre a produção de um conjunto de gravuras de arte, em técnicas tradicionais e/ou em experimentações contemporâneas, elaboradas a partir de elementos da paisagem. Como aporte teórico metodológico essa investigação se estrutura na pesquisa em poéticas visuais, que considera fundamental a constante relação entre prática artística e referenciais teóricos, bem como o confronto entre a produção do pesquisador e a Arte Contemporânea (REY, 1996; 2002). O conceito de paisagem será problematizado a partir de escritos dos autores Cauquelin (2007), Ferreira (2000), Maderuelo (2010), La Pastina (2022) e Meira (2000). Ademais, para analisar o processo de criação, Resende (2000), Krauss (1986) e Buti (1996) contribuem na contextualização da produção gráfica artística contemporânea.
ROSANE KAMINSKI
Cinema, artes visuais e violência no Brasil dos anos 1980-90
Linha Teoria, Crítica e História da Arte
O projeto articula estudos sobre História, Cinema e Artes Visuais, colocando em discussão a violência na sociedade brasileira, enquanto herança colonial. Propõe uma avaliação de filmes e obras de artes visuais produzidos no Brasil ao longo das décadas de 1980-90 que participaram, enquanto “corpos que pensam”, da discussão artística, intelectual e social em torno da violência. No período selecionado para esta pesquisa, houve uma notável ampliação do debate sobre a violência no Brasil, tanto no ambiente acadêmico quanto na mídia e nas políticas sociais, fenômeno que se espraia e aprofunda na tessitura social do país até os dias de hoje. Nos mesmos anos, enquanto a discussão teórica sobre o fenômeno social da violência encontrava respaldo em universidades e centros de pesquisa, as artes visuais e o cinema participaram ativamente daquele debate, construindo uma visibilidade crítica para a violência estrutural, com o intuito de desnaturalizá-la. Nos filmes e obras de arte até agora selecionados foram identificados temas como chacinas, crimes, prisões, grupos de extermínio, linchamentos e outros eventos traumáticos. Tais obras colocam-se em constante diálogo com a espetacularização da violência nos meios de comunicação, problematizando-a por meio do tensionamento da linguagem. Considera-se, portanto, que esses trabalhos feitos por artistas agiram (e ainda agem) produzindo uma “distância”, pois ensinam a pensar criticamente diante das imagens e da proliferação midiática da violência nesses tempos em que impera o visível. Por isso, a pesquisa entrelaça o estudo estético (amplo) com a pesquisa histórica (do recorte específico), partindo do pressuposto de que o estético é sempre político, e um espaço privilegiado para a formação de juízos críticos.
Financiamento: Pesquisa financiada pelo CNPq a partir de março de 2022 – contemplada na seleção para bolsistas PQ-2 (Chamada CNPq Nº 4/2021 - Bolsas de Produtividade em Pesquisa – PQ) – Processo 315851/2021-0
História, ficção e artes
Linha Teoria, Crítica e História da Arte
O projeto de pesquisa fundamenta-se no pensamento de Jacques Rancière acerca da articulação entre o estético e o político. Busca trazer para o âmbito da pesquisa histórica um olhar investigativo sobre os produtos culturais ficcionais pautado num viés de interpretação que evidencie os “efeitos no real” dos enunciados poéticos ou literários que assim ganham corpo, ao contrário de serem vistos como “reflexos do real”. As artes, em geral, operam no terreno da ficção, construindo rearranjos materiais de signos e de imagens que, por sua vez, geram modificações na nossa capacidade de compreensão do mundo. Daí sua potência essencialmente política e histórica. Pretende-se, neste sentido, orientar e desenvolver pesquisas e que tenham como objeto de estudo artistas e obras que, ao construir enunciados que terão efeitos no real, interferem na percepção sensível do comum, da relação entre o comum das linguagens e a distribuição sensível dos espaços e ocupações.
SARAH MARQUES DUARTE
TecnoBarca: 10 anos nas ilhas que bailam
Linha Processos Criativos Contemporâneos
Reconhecendo a importância da produção de materiais dedicados à documentação de projetos artísticos realizados em nosso país, principalmente fora dos grandes centros, a pesquisa TecnoBarca: 10 anos nas ilhas que bailam, tem como objetivo central o levantamento de materiais visuais, textuais e demais documentos residuais, bem como a realização de entrevistas e produção reflexiva, em torno do projeto de residência artística TecnoBarca, realizado desde 2012 no Arquipélago do Bailique - AP. A pesquisa partirá da recolha e catalogação de fotografias, vídeos e demais formas de registro visual, bem como de vestígios, documentos residuais e desdobramentos textuais das seis edições do projeto, para a realização de um catálogo artístico que, ademais, contará com a contribuição de artistas e organizadores em forma de entrevistas e textos reflexivos. As singularidades do projeto, desenvolvido desde 2012, geraram uma multiplicidade de configurações para a residência, experimentadas como modo de responder às urgências e necessidades da região. No exercício de compilação destas memórias, a pesquisa deseja fomentar, além da produção deste arquivo processual do projeto, a criação de estratégias e diálogos em torno da potência da arte como forma e força de invenção de possibilidades outras de habitar o mundo. Assim, artistas e demais profissionais que passaram pela residência serão convidades a refletir sobre suas experiências, percepções, como também sobre os limites, questões e caminhos possíveis para o projeto.