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PROJETOS DE PESQUISA EM ANDAMENTO

Os projetos de pesquisas dos docentes do PPGAV abrangem a variedade esperada de um Programa de Pós-Graduação, compreendendo temas e abordagens alinhadas à Área de Concentração e às duas Linhas de Pesquisa, todas centradas na compreensão do fenômeno artístico moderno e contemporâneo. Dentre as pesquisas teóricas, são abarcadas áreas como arte e política, história da arte no Brasil, arte e narratividade, artes visuais e outras linguagens, arte e violência, assim como a teoria da arte e estudos interdisciplinares. Na área de poéticas, as pesquisas dos docentes incluem estudos sobre gravura, escultura, artes do vídeo, exposições de arte e curadoria, arte em estados não-ordinários de consciência, estudos da performance e do corpo, processos criativos, humor, antiarte, intervenção urbana e site-specific.

 

AMABILIS DE JESUS DA SILVA

Figurino-ciborgue: uma vivência com cadeirantes

Linha Processos Criativos Contemporâneos

Partindo do manifesto ciborgue de Donna Haraway e dos estudos das representações e imaginários do corpo dissociado ou não da noção de pessoa, de David Le Breton, e o corpo como percepção de si, de Georges Vigarello, a presente pesquisa tem por propósito a análise e proposição de dispositivos para a criação de figurinos-extensões do corpo em ações com cadeirantes. As considerações do artista Hundertwasser sobre as camadas das peles (primeira pele, a epiderme; segunda pele, o vestuário; terceira pele, a casa; quarta pele, o meio social e a identidade; quinta pele, o meio global) também servem como aporte que se soma à discussão do corpo/cadeira/extensão/ambiente/cidade. Ressalta-se, ainda, o caráter teórico-prático, tendo em vista as estratégias de vivências com as participantes e os procedimentos para ações performativas com próteses de locomoções.


ARTUR CORREIA DE FREITAS

A condição conceitual: as novas vanguardas e o regime alográfico

Linha Teoria, Crítica e História da Arte

Inserida no cruzamento entre historiografia da arte e filosofia analítica, esta pesquisa pretende testar a hipótese de que a expansão da ideia de “obra de arte”, mobilizada pelo quadro cultural das vanguardas, teria sido motivada, no plano da atividade inventiva, pela generalização da “condição conceitual” das novas vanguardas (anos 1960 e 1970). Por condição conceitual entende-se aqui o processo histórico de introjeção do chamado regime “alográfico” (virtualização) no interior dos dispositivos de produção poética. De acordo com os teóricos Nelson Goodman e Gérard Genette, o regime alográfico é aquele em que um artefato não se define pela sua própria história material de produção e, portanto, não se apresenta como um objeto ou evento único, original e aurático, nem depende do corpo do artista para existir. Uma obra de arte alográfica, nesses termos, implica um artefato de imanência virtual que comporta, ao menos em potência, incontáveis ocorrências ou performações possíveis, tal como um romance, com sua tiragem de livros impressos, uma peça de teatro, com suas montagens, ou uma composição musical, com suas múltiplas possibilidades de interpretação. Diante disso, a questão central será compreender o impacto dessa forma de imanência estética no domínio específico das artes visuais, com destaque para os principais procedimentos de alografização (virtualização) historicamente mobilizados nas vanguardas dos anos 1960 e 1970. Uma vez difundida no contexto das novas vanguardas, a introjeção alográfica operada pela condição conceitual terá efeitos duradouros na produção artística contemporânea, e no que nela se entende por “obra de arte”. Ao longo do desenvolvimento da pesquisa, pretende-se pôr à prova o pressuposto de que a condição conceitual das novas vanguardas se dá por meio de três modos de virtualização, aos quais se nomeará, em caráter provisório, de alografia “projetual”, “declarativa” e “instrucional”.

Financiamento: CNPq – Bolsa de Produtividade em Pesquisa PQ-2. Projeto aprovado na Chamada CNPq n. 04/2021 Bolsa de Produtividade em Pesquisa. Processo: 312500/2021-1


Arte e política no Brasil

Linha Teoria, Crítica e História da Arte

No contexto a que Jacques Rancière nomeia por regime estético, a relação entre arte e política, segundo o autor, é atravessada por três modelos de eficácia da arte, a saber: (1) aquela que mostra os estigmas da dominação, (2) a que põe em ridículo os ícones reinantes e, por fim, (3) a que sai dos lugares que lhe são próprios para transformar-se em prática social. Em linhas gerais, o primeiro modelo de eficácia política da arte coincide com as diversas formas de iconografia política centradas na ideia de engajamento, ou seja, de apelo ao público profano por meio de narrativas acusatórias e/ou heroicizantes. O segundo modelo, por sua vez, consiste na sobrevivência transfigurada da iconoclastia, via de regra temperada pelo encontro da sátira com a raiva civil. Ao passo que o terceiro modelo de eficácia, finalmente, é aquele que diz respeito aos gestos de embate direto, por meio da linguagem, com as convenções simbólicas e éticas difundidas pelas instituições da cultura. Desse modo, partindo da ideia histórico-artística mais ampla de regime estético, este projeto pretende testar, por meio de estudos de casos exemplares, a validade e o alcance da tipologia dos três modelos de eficácia política da arte no contexto da arte moderna e contemporânea no Brasil, com ênfase na produção poética, crítica e institucional realizada do pós-guerra em diante, entre os anos 1950 e 2000, aproximadamente.


BERNADETTE MARIA PANEK

Problemáticas na história da gravura: entre o popular e a erudição – “diante da dor dos outros”

Linha Processos Criativos Contemporâneos

Esta pesquisa procura abordar a construção de estruturas de pensamento associadas à execução de imagens conectadas às problemáticas sociais, de latência política – guerras, ditaduras, artistas que falam do próprio exílio,  artistas com potencialidade crítica à sociedade em que vivem, exaltando a dor de um povo em específico. A partir das referências  da obra de Jacques Callot, Francisco Goya, Honoré Daumier e José Guadalupe Posada. Com ênfase nos artistas brasileiros pertencentes aos Clubes de Gravura, nos anos de 1950, a exemplo da obra gráfica de Glenio Bianchetti, Danúbio Gonçalves, Carlos Scliar e Vasco Prado.

A partir da leitura da publicação de Susan Sontag “Diante da dor dos outros” que discute a problemática da fotografia/documentação dos conflitos de guerra; e o livro de Octavio Paz “El labirinto de la soledad” que trata do conceito de solidão conectado à morte, este projeto de pesquisa pretende a princípio tratar da obra gráfica de José Guadalupe Posada (1852-1913 México), momento em que espera construir uma leitura associativa com as obras referenciais de Goya (1746-1828 Espanha) e Daumier (1808-1879 França); assim como esta pesquisa pretende utilizar como referência a obra de Aracy Amaral “Arte para quê? A preocupação social na arte brasileira 1930-1970”, com a finalidade de discutir a produção dos Clubes de Gravura no Brasil, em específico, aqueles do Rio Grande do Sul, sem deixar de construir uma relação de âmbito nacional e internacional, em particular, conectado à publicação da revista “Horizonte”, investigar qual a relação possível a levantar sobre a influência da arte gráfica mexicana na América Latina nos anos de 1930.

Assim também pretende, por meio da leitura do ensaio “El dossier histórico del Apu-Mallq’u” de Jorge Llaguno, o qual trata de fatos históricos que não constam nos livros tradicionais de história, indagar sobre processos culturais nos quais estão envolvidos direta ou indiretamente,  os artistas aqui debatidos, que engendram, concebem uma arte comprometida.

Financiamento: Fundação Araucária – Programa de Iniciação Científica da UNESPAR


CARINA MARIA WEIDLE

O Quanto Custa

Linha Processos Criativos Contemporâneos

O Quanto Custa propõe o desenvolvimento de obras que exploram as qualidades do baixo e alto relevo, na cerâmica e em diversos materiais moldáveis.  Tem como tema medalhas e moedas, com interesse na discussão  de formas de representações do relevo contemporâneo. Estrutura-se em séries, algumas das quais já definidas, como Medalhas para Olhos d’água, Jardim para Vestir, Montanhas Comemorativas e Esculturas de Bolso. A pesquisa envolve experimentações com materiais, problematizações de escala e a aproximação com a ideia do informe.


DEBORAH ALICE BRUEL GEMIN

O sítio específico da crítica institucional na América Latina

Linha Processos Criativos Contemporâneos

A pesquisa pretende investigar trabalhos de arte produzidos a partir dos anos 70 nos países da América Latina considerados site-specific e crítica institucional. Isso porque os referenciais conhecidos sob essas duas alcunhas são em maioria norte-americanos. Não é de hoje que se constroem e disseminam percepções estereotipadas da arte produzidas nos países sob a égide latino-americana, muito em consequência da falta de conhecimento acerca dessa produção. Para Gerardo Mosquera, nós, os países latino-americanos nos encontramos dessa forma, numa espécie de quebra-cabeças de falta de integração e de comunicação horizontal que contrasta com uma posição subalterna ao norte, de quem importamos obras e artistas exemplares, e as teorias que constroem nossa história da arte. (2012, p.12) Isso reflete a necessidade cada vez mais urgente da troca de saberes e experiências entre estes países, se quisermos investir em práticas decoloniais. No entanto, esse desejo, devemos reconhecer é muito ambicioso, para não dizer utópico no escopo desta pesquisa. que se caracteriza pelo interesse de conhecer e pensar as práticas site-specific e de crítica institucional produzidas para além do contexto norte-americano e europeu, colocando-as como protagonistas na nossa história da arte deslocando-as dessa subalternidade ao norte. Os objetivos da pesquisa são: conhecer a produção artística site-specific a partir dos anos 1970 de artistas da América Latina; estabelecer uma relação dessa produção com o conceitualismo da arte ocidental do século XX; distinguir dentre as obras relacionadas no estudo aquelas que possuem um viés crítico-institucional.


DENISE ADRIANA BANDEIRA

Redes de trocas e diagramas: sistema, agentes e políticas em arte digital

Linha Processos Criativos Contemporâneos

Estudo do sistema de arte, a partir de eventos, constituição de uma investigação sobre o conceito do diagrama e suas possibilidades de aplicação na experiência artística e em dinâmicas institucionais; refletir sobre a formação de redes entre agentes, trocas e políticas em arte digital / arte contemporânea.


FABRÍCIA CABRAL DE LIRA JORDÃO

Arte política, decolonialidade e imaginários capitalistas na América Latina

Linha Processos Criativos Contemporâneos

O projeto de pesquisa, desde uma perspectiva marxista e de uma abordagem materialista dialética, se propõe a investigar a conflituosa relação entre arte política e os imaginários revolucionários no contexto de hegemonia da realidade material capitalista. Para tanto, toma-se como hipótese que hoje, nos cenários artísticos da América Latina, a relação arte revolução foi recolocada e atualizada, sobretudo, por produções artísticas alinhadas com as perspectivas decoloniais. Em que pesem a abertura sem precedentes para os discursos, as produções e os imaginários que emergem de segmentos historicamente excluídos, essas produções tem diante de si grandes desafios: afirmar o caráter político do trabalho de arte e produzir uma ‘forma artística contra revolucionária’ em um circuito regido tanto pela lógica despolitizante do neoliberalismo, quanto pela hegemonia do imaginário revolucionário capitalista e de sua economia das imagens. Diante desse cenário, a pesquisa tem três objetivos centrais. Primeiro: problematizar quais seriam as funções da arte, do trabalho de arte e da imagem artística na era do capitalismo total. Segundo: investigar os limites e potencialidades contra revolucionários de trabalhos de arte comprometidos a perspectiva decolonial. Terceiro: especular se seria possível reimaginar a forma artística como uma realidade material anticapitalista.


FABRICIO VAZ NUNES

O fantástico latino-americano entre as artes visuais e a literatura: estudos de casos

Linha Teoria, Crítica e História da Arte

O projeto “O fantástico latino-americano entre as artes visuais e a literatura: estudos de casos” tem como tema diferentes casos de interação e diálogo entre a produção artística latino-americana no âmbito das artes visuais e no âmbito da literatura no gênero fantástico, com ênfase no recorte cronológico do século XX. Os objetos a serem pesquisados são casos de ilustrações de livros dentro do gênero fantástico realizados por artistas latino-americanos; textos literários escritos por artistas visuais latino-americanos e suas relações com sua produção plástica, assim como textos de crítica de arte de autoria de escritores latino-americanos ligados ao fantástico; e histórias em quadrinhos, com ênfase na produção argentina, dentro do gênero fantástico e fantasista, incluindo ainda, eventualmente, outras produções intermidiáticas dentro do gênero fantástico que manifestem diálogos e relações entre artes visuais e literatura e que se revelem pertinentes para a pesquisa. O aporte teórico central desta pesquisa se dá a partir do conceito de intermidialidade, em especial nas formulações de W. J. T. Mitchell e Irina Rajewski, e das considerações sobre o fantástico na obra de Rosalba Campra, “Territorios de la ficción – el fantástico”, em que o gênero é definido a partir da noção de transgressão de limites entre real e irreal, natural e sobrenatural, entendendo-se que a interação e o diálogo entre artes visuais e literatura também opera com transgressões dos limites entre as diferentes modalidades artísticas.

Financiamento: Fundação Araucária – Programa de Iniciação Científica da UNESPAR


JOSÉ ELIÉZER MIKOSZ

O lugar da sexualidade nas artes visuais da contracultura psicodélica

Linha Processos Criativos Contemporâneos

Este projeto de pesquisa tem como objetivo revisitar alguns acontecimentos da contracultura iniciados por volta de 1964, nomeadamente sobre a arte psicodélica ligada ao erotismo favorecido pela revolução sexual da época. Após o progresso e poder americano do pós-guerra, milhares de jovens rejeitaram o “sonho americano” de seus pais que prospectavam suas vidas dedicadas ao dinheiro e status. Esses jovens de classe média criaram o que ficou conhecido como contracultura que floresceu de vários modos até meados dos anos 1970. A maioria se tornou hippie e buscaram sentido na espiritualidade oriental, vida em comunidade e no amor livre. Outros se tornaram a nova esquerda radical que planejavam derrubar o governo. Ambos acreditavam no iminente surgimento da Nova Era e que seus protestos e forças contra o sistema poderiam levar a Paz e Amor ao triunfo. Nesse período está presente a experimentação mais aberta e defendida do uso de substâncias psicoativas, a busca por expansão da consciência, que é uma das características do movimento psicodélico. É, portanto, a partir desses dois fenômenos, o amor livre e o psicodelismo, que buscaremos exemplos da produção poética do período nas pinturas e desenhos, histórias em quadrinhos, cartazes, até suas repercussões no Brasil da época e na atualidade, como também na poética pessoal do autor deste projeto.


KEILA KERN

Utopias, distopias e projeções nas artes visuais da América Latina

Linha Processos Criativos Contemporâneos

A hipótese desta pesquisa é que a antropologia especulativa tem se aproximado dos temas do campo da Arte e pode fornecer instrumentos teóricos e críticos válidos e importantes demais para serem dispensados pela pesquisa e prática artística. Este trabalho está voltado para a tradução do texto “Reativar a feitiçaria e outras receitas de resistência – pensando com Isabelle Stengers” do antropólogo e professor Renato Sztutman como forma de aproximação com os conceitos de “cosmopolítica”, “pensamento ameríndio”, “animismo” e “sobrenatureza”. O projeto tem como objetivo examinar o conceito/proposta de “cosmopolítica”, tal como formulado por Isabelle Stengers e desenvolvido por Bruno Latour, reconhecendo nesta proposta uma nova perspectiva, crítica e de aproximação, entre conhecimentos científicos e conhecimentos não-científicos (como tem sido categorizados o pensamento em arte). Uma vez cercada a formulação deste conceito/proposta o foco de investigação desta pesquisa residirá nos impasses contemporâneos em torno desta dualidade, fundada pela distinção modernista entre Natureza e Sociedade, na produção artística latino-americana.


MILENA COSTA DE SOUZA

Onde estão as curadoras e curadories?

Linha Teoria, Crítica e História da Arte

O projeto "Onde estão as curadoras e curadories?” tem como objetivo mapear mulheres, pessoas trans, não-binárias e agêneras, que trabalham com curadoria na cidade de Curitiba. Através de pesquisa realizada a partir de questionário estruturado, análise bibliográfica e documental, serão produzidos perfis resumidos e expandidos. Pretende-se compreender as redes de atuação curatorial, conhecer quem delas participa e suas trajetórias.


MILIANDRE GARCIA DE SOUZA

“Contra a censura, pela cultura”: a formação da resistência cultural na ditadura militar brasileira

Linha Teoria, Crítica e História da Arte

Os regimes autoritários por sua natureza repressiva e centralizadora costumam modificar as estruturas de representação do sistema político, bem como a participação e engajamento de grupos e indivíduos. Em muitos casos e por inúmeros motivos, a organização da luta contra os governos autoritários não se limita ao campo político, mas expandem-se para outros espaços, entre eles o cultural. Essa reconfiguração dos campos em contextos autoritários, da mesma forma altera a dinâmica dos grupos e dos indivíduos que organizam a oposição política em inúmeras frentes, tal como ocorreu no Brasil durante as ditaduras Vargas e militar, bem como em outros países da América Latina.

O objetivo central do projeto de pesquisa é, portanto, contemplar as diferentes práticas de resistência ao autoritarismo no campo artístico e intelectual, localizadas no Brasil no período de ditadura militar, considerando os processos de continuidade e ruptura dessas experiências, bem como os dilemas e ambivalências da criação cultural.


PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA REIS

Narrativas da arte no Brasil: outras histórias

Linha Teoria, Crítica e História da Arte

O presente projeto de pesquisa propõe uma investigação sobre a historiografia da arte contemporânea no Brasil. Através de publicações de história da arte no país desde finais dos anos 1960, críticas de arte, curadorias de exposições, relatos, entrevistas e documentações diversas, serão realizadas reflexões sobre modos de construção das narrativas da história da arte. E, a partir de estudos iniciais, serão analisados modelos historiográficos, seus recortes, classificações, posicionamentos críticos e suas escolhas. Pretende-se desta forma uma discussão ampla sobre a construção das narrativas da arte no Brasil, hegemônicas ou não, através do entendimento de olhares específicos, quais sejam, posicionamentos críticos estabelecidos pelos estudos de gênero, na multiplicidade de narrativas estabelecidas pela diversidade cultural-geográfica do país, nas ações de uma arte ativista e no resgate da memória de proposições individuais ou coletivas que efetivaram-se fora de instituições artísticas ou que tiveram um caráter efêmero. E por fim, através de uma crítica histórica e cultural, propõe-se a construção de histórias plurais da arte brasileira, uma revisão do apagamento de determinadas proposições artísticas e o diálogo sempre aberto com outros campos artísticos e culturais.


RAFAEL TASSI

Memória e testemunho: mediações críticas, estratégias artísticas e deslocamentos na perspectiva arte e trauma

Linha Teoria, Crítica e História da Arte

O projeto de pesquisa pretende desdobrar e alargar o projeto de pesquisa anterior do pesquisador (Dever de Memória, Dilemas Representacionais: Limites entre Arte, Exposição e Testemunho), incialmente ideado como projeto de pós-doutorado (iniciado em 2017, concluído em 2018) e que teve seu término coincidindo com o início do novo ciclo avaliativo da Capes (quadriênio 2021-2024). O projeto de pesquisa atual, a ser desenvolvido majoritariamente no novo quadriênio, almeja seguir produzindo interfaces com o estudo das formas visuais e audiovisuais (entre outras, iconografia, material audiovisual, contextos fílmico-imagísticos, fotografias, etc.) relacionadas ao tema arte-violência desde diversas fontes expositivas (arte abjeta; instalações; cinematografias; material fotográfico; etc.). Interessa, mais uma vez, o levantamento e a análise de corpus cinematográficos e obras específicas das artes contemporâneas que promovam, em seu centro articulador (o eixo memória e testemunho), a noção de arte e trauma. O novo projeto de pesquisa pretende avaliar estratégias artísticas e escolhas fenomenológicas dentro desse horizonte, adotando novas composições teórica-analíticas, em associação com perspectivas anteriores, para estruturar os estudos das fontes documentais e deontologia artística: estética da longa duração; usos criativos do arquivo; ‘realismo traumático’; políticas de memória em filmes com ‘tempos longos’; memória e transmissibilidade artística; etc.


RENATO TORRES

Paisagens deslocadas: processos de criação em gravura

Linha Processos Criativos Contemporâneos

A presente pesquisa tem por objetivo refletir sobre a produção de um conjunto de gravuras de arte que serão elaboradas a partir de questionamentos sobre o conceito de paisagem. Como aporte teórico metodológico essa investigação se estrutura com base na pesquisa em poéticas visuais, que considera fundamental a constante relação entre prática artística e referenciais teóricos, bem como o confronto entre a produção do pesquisador e a Arte Contemporânea. A paisagem é aqui compreendida como construção simbólica, social e cultural, tendo por base os escritos de Anne Cauquelin, em seu livro “A invenção da paisagem”, e Silvia Miranda Meira, em seu texto “As diferentes representações da paisagem na pintura moderna do início do século XX”. No desenvolver da pesquisa os conceitos deslocamento, efêmero e lugar auxiliam na compreensão de trabalhos contemporâneos que dialogam com a paisagem. A obra gráfica contém fortes laços entre suas dimensões técnica e poética, impulsionando reflexões que contemplem suas interdependências. A produção contemporânea de gravura, para além das técnicas tradicionais (xilogravura, água forte, água tinta, litografia, linóleo e serigrafia), incorporou as discussões sobre hibridismo, campo expandido, apropriações, entre outras, reconfigurando tanto os resultados estéticos quanto os espaços de legitimação da obra de arte. Nesse sentido, esse projeto compreende o fazer artístico como campo de experimentação gráfica que flerta com a intervenção urbana, com a instalação e com a mistura de técnicas tradicionais com impressões não convencionais.


ROSANE KAMINSKI

Cinema, artes visuais e violência no Brasil dos anos 1980-90

Linha Teoria, Crítica e História da Arte

O projeto articula estudos sobre História, Cinema e Artes Visuais, colocando em discussão a violência na sociedade brasileira, enquanto herança colonial. Propõe uma avaliação de filmes e obras de artes visuais produzidos no Brasil ao longo das décadas de 1980-90 que participaram, enquanto “corpos que pensam”, da discussão artística, intelectual e social em torno da violência. No período selecionado para esta pesquisa, houve uma notável ampliação do debate sobre a violência no Brasil, tanto no ambiente acadêmico quanto na mídia e nas políticas sociais, fenômeno que se espraia e aprofunda na tessitura social do país até os dias de hoje. Nos mesmos anos, enquanto a discussão teórica sobre o fenômeno social da violência encontrava respaldo em universidades e centros de pesquisa, as artes visuais e o cinema participaram ativamente daquele debate, construindo uma visibilidade crítica para a violência estrutural, com o intuito de desnaturalizá-la. Nos filmes e obras de arte até agora selecionados foram identificados temas como chacinas, crimes, prisões, grupos de extermínio, linchamentos e outros eventos traumáticos. Tais obras colocam-se em constante diálogo com a espetacularização da violência nos meios de comunicação, problematizando-a por meio do tensionamento da linguagem. Considera-se, portanto, que esses trabalhos feitos por artistas agiram (e ainda agem) produzindo uma “distância”, pois ensinam a pensar criticamente diante das imagens e da proliferação midiática da violência nesses tempos em que impera o visível. Por isso, a pesquisa entrelaça o estudo estético (amplo) com a pesquisa histórica (do recorte específico), partindo do pressuposto de que o estético é sempre político, e um espaço privilegiado para a formação de juízos críticos.

Financiamento: Pesquisa financiada pelo CNPq a partir de março de 2022 – contemplada na seleção para bolsistas PQ-2 (Chamada CNPq Nº 4/2021 - Bolsas de Produtividade em Pesquisa – PQ) – Processo 315851/2021-0


Imagens de traumas 

Linha Teoria, Crítica e História da Arte

O projeto Imagens de Traumas - firmado por meio do termo aditivo ao acordo de cooperação entre a UFPR e a Universitat de Valéncia (processo 0167572013-70) - tem por objetivo o levantamento e o estudo de documentos visuais e sonoro-visuais (fotografias, obras de arte, filmes, materiais gráficos) relacionados às mais variadas experiências sociais traumáticas, tais como violência urbana, massacres, genocídios, torturas e escravidão. Dois tipos de arquivos ganham destaque nesse processo de análise e reflexão sobre as imagens de traumas: 1) repositórios de fichas e arquivos policiais, fotografias documentais de presos, de dementes e ou de condenados, assim como fotografias e vídeos que registram movimentos de rua ou situações extremas de violência urbana, entre outros tipos documentais na mesma linha, constituem exemplos de conjuntos de imagens produzidas e cujo deslocamento ou alteração de seus contextos originais fazem operar modificações de sentido a partir de ações como seleção, montagem, exposição, entre outros agenciamentos; 2) as obras de artes visuais, filmes e histórias em quadrinhos entre outros produtos visuais ficcionais que tem como assunto o trauma, contribuindo para a construção de uma memória (testemunhal, crítica, irônica ou melancólica) sobre os acontecimentos históricos considerados traumáticos. Para o filósofo francês Paul Ricoeur, a ficção tem o poder de provocar uma “ilusão de presença (...) controlada pelo distanciamento crítico”. Este poder, mais que agradar ou distrair o leitor, faz do ficcional, em suas múltiplas formas, linguagens e suportes, corolário das tragédias modernas, instaurando no seio do tempo presente a inquietação e o desassossego frente à barbárie. Essa capacidade intrínseca às narrativas ficcionais – a de penetrar no mundo empírico, fazendo aparecer dados por uma ótica que não lhe pertence diretamente, mas que, ao mesmo tempo, ampliam e complexificam a possibilidade de pensá-lo –, interessam particularmente a esse projeto. Entre outras coisas porque permitem uma aproximação aos eventos traumáticos por meio de linguagens que, pela interpretação, mudam seus sentidos originais e os atualizam, permitindo ver, desde o presente, a inquietante e incômoda atualidade dos traumas passados. Seja num caso ou no outro, é importante lembrar que, na atualidade, as imagens circulam numa atmosfera midiática incessante, e que tanto os seus modelos formais quanto as suas interpretações se modificam, se re-significam, mimetizam e interatuam. As imagens condensam e representam experiências intensas, além de, de certa forma, tenderem a ser tratadas como “únicas” em cada contexto, uma vez que se referem a uma memória dolorosa e localizada em contextos autoritários. Nesse sentido, a promoção de uma reflexão comparativa, numa parceria de pesquisa internacional, pode contradizer esse sentimento de singularidade que aflora em cada caso, e, ao mesmo tempo, pode iluminar tais eventos particulares com o conhecimento de uma esfera midiática global. Nesse sentido, o projeto pretende abarcar estudos que envolvam imagens de experiências traumáticas na história brasileira (escravidão, ditadura militar, torturas, violência urbana, massacres) mas, também, de forma mais ampla, incluindo imagens de traumas da história de outros países.

Acordo de cooperação internacional sem financiamento.


História, ficção e artes

Linha Teoria, Crítica e História da Arte

O projeto de pesquisa fundamenta-se no pensamento de Jacques Rancière acerca da articulação entre o estético e o político. Busca trazer para o âmbito da pesquisa histórica um olhar investigativo sobre os produtos culturais ficcionais pautado num viés de interpretação que evidencie os “efeitos no real” dos enunciados poéticos ou literários que assim ganham corpo, ao contrário de serem vistos como “reflexos do real”. As artes, em geral, operam no terreno da ficção, construindo rearranjos materiais de signos e de imagens que, por sua vez, geram modificações na nossa capacidade de compreensão do mundo. Daí sua potência essencialmente política e histórica. Pretende-se, neste sentido, orientar e desenvolver pesquisas e que tenham como objeto de estudo artistas e obras que, ao construir enunciados que terão efeitos no real, interferem na percepção sensível do comum, da relação entre o comum das linguagens e a distribuição sensível dos espaços e ocupações.


SARAH MARQUES DUARTE

TecnoBarca: 10 anos nas ilhas que bailam

Linha Processos Criativos Contemporâneos

Reconhecendo a importância da produção de materiais dedicados à documentação de projetos artísticos realizados em nosso país, principalmente fora dos grandes centros, a pesquisa TecnoBarca: 10 anos nas ilhas que bailam, tem como objetivo central o levantamento de materiais visuais, textuais e demais documentos residuais, bem como a realização de entrevistas e produção reflexiva, em torno do projeto de residência artística TecnoBarca, realizado desde 2012 no Arquipélago do Bailique - AP. A pesquisa partirá da recolha e catalogação de fotografias, vídeos e demais formas de registro visual, bem como de vestígios, documentos residuais e desdobramentos textuais das seis edições do projeto, para a realização de um catálogo artístico que, ademais, contará com a contribuição de artistas e organizadores em forma de entrevistas e textos reflexivos. As singularidades do projeto, desenvolvido desde 2012, geraram uma multiplicidade de configurações para a residência, experimentadas como modo de responder às urgências e necessidades da região. No exercício de compilação destas memórias, a pesquisa deseja fomentar, além da produção deste arquivo processual do projeto, a criação de estratégias e diálogos em torno da potência da arte como forma e força de invenção de possibilidades outras de habitar o mundo. Assim, artistas e demais profissionais que passaram pela residência serão convidades a refletir sobre suas experiências, percepções, como também sobre os limites, questões e caminhos possíveis para o projeto.